O comandante anunciou.
― Tripulação, preparar para o pouso.
Olhei pela janela. Lá em baixo, no entorno do aeroporto até onde a vista podia alcançar, só havia pasto e vaquinhas.
― Isso, realmente, é no meio do nada – pensei.
O avião descia cada vez mais. Mais vacas a vista.
O avião tocou suavemente o solo.
A cidade nublada. Cheiro de terra. Ar quente, quente e seco, que fazia ressecar as vias respiratórias dos visitantes.
O aeroporto tinha um certo jeito de rodoviária, porém mais arrumada. As lojinhas, que eram bem poucas, ficavam do outro lado da única rua que passava pelo aeroporto.
Dali saía o ônibus que ia para a cidade. Com sorte levaria uma hora até lá.
Cheguei ao hotel, já passava bastante da hora do almoço.
― Boa tarde, tenho reserva. Preferia um andar alto – disse.
Queria poder tirar umas fotos da cidade do alto. Também sabia que nos andares altos tinha internet sem fio.
― Desculpe senhora, mas sua reserva é para quarto standard. Os quartos standard só vão até o 6º andar.
Quarto standard, ou seja, sem rede, sem internet, sem vida virtual.
― Pelo menos quero um quarto com cama de casal.
Não passaria uma semana sendo obrigada a dormir em uma cama de solteiro.
― Quarto 312. Seu cartão.
Não existiam mais chaves nos hotéis. Foram substituídas por cartões magnéticos.
Dizem que são ótimos e seguros. Desde que não se sente em cima deles, pois quebram com facilidade – pensei. Ou ainda quando desmagnetizam e impedem sua entrada no quarto, o que não é raro ocorrer.
Ah, nada como a boa e velha chave!
Subi pelo elevador ainda inconformada com a falta de conectividade daquele quarto.
No Rio o prefeito anunciava em todos os jornais que favela ia ter rede de internet sem fio grátis. E naquele hotel, que não tinha uma diária nada barata, só pagando adicional pelo quarto especial.
Mas quem disse que esse era um país justo?
Levara o laptop, mas ficaria desconectada. Me recusava a pagar mais por isso.
Sem a internet para navegar, e com a máquina fotográfica a mão, resolvi colocar em prática algumas idéia. Passei a tarde nisso.
Nada ficara realmente bom.
Frustrada, resolvi descer e caminhar até o shopping. Ao chegar no lobby, vi que a calçada estava molhada.
― Choveu?!?! - perguntei espantada para o funcionário do hotel.
Como se não fosse óbvio. Não conseguia imaginar como podia chover naquela cidade seca.
― Sim, mas já parou. - respondeu ele.
Caminhei uns 15 minutos pelas ruas daquela cidade. As ruas subiam e desciam a toda hora.
Ao chegar ao shopping as ruas vá estavam secas.
― Com esse clima seco só podia ser assim mesmo. - disse comigo mesma.
Sentia fome. Fui direto para a praça de alimentação. Não tinham muitas opções.
Escolhi um que se dizia especializado em pratos à base de camarão. Pedi um prato de camarão com Catupiry.
A comida era lamentável. Comi sem vontade nenhuma. Tudo era sem gosto e o Catupiry estava mais para creme de leite. Péssimo!
Segui para o hotel ainda mais frustrada.
Se tinha uma coisa que eu apreciava muito era uma boa comida.
O domingo não estava sendo nada bom. Era melhor dá-lo por encerrado.
Li um pouco até adormecer.
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Chegara cedo ao local que trabalharia durante toda a semana.
O prédio era pequeno e com apenas um andar. Havia um corredor central que atravessava as salas. Todas as salas tinham paredes de vidro da metade pra cima permitindo a visualização dos ocupantes de todas as salas. Cada sala continha de 6 a 8 pessoas.
A reunião que participaria era em uma sala anexa ao prédio.
O sono me invadia. Fui procurar a copa em busca de um café.
Vários rostos desconhecidos até a copa. Uma colega de trabalho que também viajara até lá me acompanhava.
Na copa mais rostos desconhecidos. Muitos davam bom dia e eu respondia.
Ao fundo da copa um rosto se destacou.
Ele tinha pele branca e cabelos escuros, meio arrepiados para cima de uma forma displicente, mas charmosa.
Despertei imediatamente. Mesmo não tendo pegado o café ainda.
― Que bonitinho! - pensei.
Ele vestia uma camisa de malha azul e uma calça jeans e era pouca coisa mais alto que eu. Devia ter um metro e oitenta.
Seus olhos encontraram os meus. Eram de um castanho profundo. Um sorriso encheu-lhe o rosto e ele caminhou em minha direção.
Ele deve estar se encaminhando para a porta – pensei – Já que estou no caminho.
Ele chegou perto ainda olhando pra mim. Meu coração se acelerou um pouco.
― Olá! Como você está?
Fiquei confusa. Ele me conhecia?
Seu rosto não me era completamente estranho, mas esse tipo de coisa me acontecia com certa freqüência. O que não queria dizer que fosse conhecido.
Não me recordava de ter sido apresentada a ele em momento algum.
― Oi. Tudo bem – respondi meio sem graça – E você?
― Bem. - respondeu. Ele ainda sorria.
Eu sorria de volta sem saber o que mais dizer.
Outras pessoas entraram, mais bom dia. Por alguns momentos tinha me esquecido do que tinha ido fazer. Também tinha esquecido da colega que me acompanhava.
Peguei meu café e fomos para a reunião.
Saí de lá com a certeza de que não sabia quem ele era. Ao mesmo tempo, confusa e estranhamente feliz.
Após o almoço, resolvi andar um pouco pelo prédio. Tinha esperança de encontrá-lo.
Tudo vazio. Nenhum sinal daquele estranho tão familiar.
Ouvira vozes na parte de traz do prédio e um barulhinho intercalado e repetitivo que não conseguia identificar.
Fui naquela direção. Do lado de fora encontrava-se uma mesa de ping-pong. Duas pessoas jogavam e outras acompanhavam na lateral e aguardavam sua vez.
Senti quando minha respiração de alterou. Ele estava lá. Recostado na posta oposta observando o jogo. Não parecia esperar para jogar, apenas assistia.
Decidi atravessar a varanda. Fui assistir ao jogo perto dele. Coração acelerado.
Ele sorria. Olhos receptivos.
― Olá! - eu disse.
― Olá! Joga ping-pong?
― Não, só assisto – respondi.
Eu nunca tivera nenhuma habilidade para esportes com bola. Era uma negação.
― Eu também não jogo, mas aqui é só uma brincadeira.
― Mesmo assim, prefiro não arriscar.
― Você vai ficar quanto tempo?
― A semana toda.
― Ah, então você vai ter tempo de conhecer a cidade. Você já conhece?
― Já vim para cá outras vezes, mas sempre rápido. Nunca tive tempo para conhecer nada.
― Então agora vai ter que conhecer. Tá com internet no hotel?
O problema da internet. Hoje, comunicação e informação é na internet, ainda mais quando se está fora de sua cidade natal.
Percebi que ficaria isolada sem a internet.
― Não. A empresa me reservou um quarto standard, não tem internet.
Neste momento fiquei ainda mais chateada com o hotel. Minha decepção devia transparecer em meu rosto.
― Eu tenho em casa um guia turístico da cidade. Posso olhar e marcar nele o que eu acho bom na cidade e te empresto. - ele disse.
Eu sorria. Mais por dentro do que por fora. Essa viagem está ficando boa. - pensei
― Que bom. Vai ser bem útil, não conheço nada da cidade.
― Tem muita coisa boa por aqui. Muitos lugares para ir. Barzinho então... Essa é a cidade dos bares. São 30.000 bares e restaurantes na cidade.
― Nossa! É bastante mesmo! - eu disse realmente impressionada.
― Me diz que hotel que você está e o quarto que te ligo.
Dei a ele os dados e me despedi. A hora do almoço se esgotara. Precisava voltar para a reunião.
Saí dali me sentindo leve. Uma brisa suave e agradável tocava meu rosto enquanto atravessava o prédio de volta ao anexo. Estava feliz.
Após a reunião, marquei de comer uma pizza com a minha colega e um outro engenheiro local que participara da reunião e era muito solicito. Ele se ofereceu para nos levar a uma pizzaria famosa – Pizzaria Marília. Marcamos as 19 horas no hotel.
Na volta para o hotel, conversando a minha colega, ela de repente me perguntou.
― Você conheceu aquele rapaz em outra viagem para cá?
Fiquei surpresa com a pergunta tão direta. Não sabia exatamente o que responder. Afinal, não sabia quem ele era.
― Olha, se conheci, eu sinceramente, não me lembro. Mas posso ter conhecido, ele não me era estranho, sabe. - respondi meio sem jeito, esperando que isso bastasse.
Felizmente, ela não me perguntou mais nada durante a viagem.
Já estava pronta quando o telefone tocou. Meu coração disparou. Corri para atender. Era ele. Eram 18:50
― Oi. Separei aqui algumas sugestões de lugares.
― Oi. Como você demorou um pouco para ligar, já decidimos para onde vamos hoje.
― Desculpe a demora, estava marcando as opções aqui.
― Vamos para a Pizzaria Marília.
― Essa estava na minha seleção. É muito boa.
― Que bom! Marcamos 19:30 lá, ok?
― Tá bom. - disse ele.
― Então tá. Beijos.
― Beijo.
Corri para o espelho para verificar se estava tudo certo, roupa, cabelo, maquiagem leve, perfume...
Chegamos cedo à pizzaria. 19:15. Avisei que ele iria nos encontrar lá e que era melhor esperarmos para pedir.
Sentados ao lado da porta, eu podia ver toda a calçada.
19:35 e nada. A cada 2 minutos eu olhava para a rua para ver se ele estava chegando. A ansiedade aumentava.
― Você tem o telefone dele para a gente perguntar se ele já está chegando? - me perguntaram
― Não, eu não tenho número dele.
19:40 e nada. A cada minuto eu olhava para rua, alternando entre o cardápio e a rua.
Meu estômago se encolhia. Não sabia dizer se de nervoso ou de fome.
19:50. Já tinha abandonado o cardápio e olhava apenas para a rua. A conversa fluía apenas entre os outros dois ocupantes da mesa.
Ele não vem – concluí decepcionada.
Meu coração apertado e meu estômago roncando.
― Vamos pedir. Ele deve ter desistido de vir. - eu disse determinada.
Ele não aparecera.
A pizza era boa, mas não conseguiu cobrir o buraco que tinha dentro de mim.
Dormi mal a noite. Sono agitado. Coração apertado.
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Um barulho irritante. Uma respirada profunda, um ar seco invadia as vias respiratórias fazendo com que a garganta ardesse.
Uma sensação desagradável no estômago.
― O que está acontecendo? - pensei.
Abri os olhos. Acordava mais uma vez naquela cidade seca. Logo veio a lembrança da noite anterior.
Tinha levado um bolo!
Com essa lembrança desagradável levantei.
Chegara ao trabalho ainda com aquela sensação ruim. Sabia que ela se manteria enquanto eu não soubesse o que tinha acontecido.
Chegava na copa. Com uma rápida olhada vi que ele não se encontrava.
— Ele deve ter tido algum problema. – pensei – Ele teria ligado se tivesse o número do meu celular. – ainda tentava desculpá-lo.
Com o café na mão, voltava pelo corredor interno passando pelas salas envidraçadas.
Com o olhar vasculhava as salas em busca de seu rosto.
Ao fundo do corredor alguém saía por uma porta. Era ele.
— Olá menino!
— Oi menina!
— O que aconteceu ontem? Ficamos te esperando.
Seus olhos castanhos eram um misto de surpresa e confusão.
— Mas eu não disse que ia. Tenho aula segunda e quarta.
Agora era meu rosto que transmitia confusão.
Não tinha dito que ia? Vasculhei a memória tentando lembrar das palavras ao telefone.
De confusão devo ter mudado para surpresa.
Não, ele não tinha dito que ia. Mas também não tinha dito que não ia.
Passei da surpresa para o sem graça. Sem graça e com um pouco de raiva.
— Então não entendi direito. – finalmente respondi – E não tinha seu telefone para ligar e perguntar.- complementei.
— É, tivemos um problema de comunicação. Melhor trocarmos os números de celular.
Trocamos números e fui para a reunião.
Saí de lá ainda com raiva.
— Podia ser mais claro, né! – pensei indignada – Em momento algum antes ele falara de aula!
Aquela sensação desagradável permaneceu até a hora do almoço.
A reunião passara do horário. Já eram 18 horas e ainda nos encaminhávamos para o carro.
Não comia nada desde o almoço e meu estômago já reclamava.
Eu e mais dois da reunião, decidimos sair de lá direto para algum lugar, onde necessariamente tinha que ter comida.
Carro já na estrada. Mensagem no celular.
“Ei. Já descansou um pouquinho? Vocês vão jantar que horas? Me fale que apareço e dou carona até o restaurante.”
Era dele.
— Haaa! Ele acha que já estou no hotel faz tempo. – comentei.
Respondi a mensagem.
“Ainda estamos saindo do trabalho. Vamos direto para a choperia Pingüim.”
“Beleza. Beijos” – respondeu ele.
— Denovo! Isso não é uma resposta! – pensei indignada.
O que isso queria dizer? Que ele iria ou não?
Mais um rouco do estômago.
Estava muito faminta para me preocupar com isso.
Chegando ao Pingüim pedimos logo o que comer. A escolha foi por um aperitivo de filé mignon com gorgonzola acompanhado de torradas Um choppinho para completar.
Uma ansiedade contida ainda estava presente.
Não diria aos outros que ele iria. Não passaria por isso denovo. Provavelmente ele não iria novamente.
Senti meu estômago roncar mais uma vez.
Estávamos em uma mesa no limite entre as áreas interna e externa do local, com vista para uma grande árvore iluminada de verde. Um pouco mais adiante, um carro antigo brilhava exposto em uma área já próxima à calçada.
Só dava para ver que pessoas passavam pela calçada, sem ser possível identificá-las devido à distancia.
— Melhor assim – pensei – Não vou passar outra noite vigiando a entrada para ver se ele vem!
A comida chegou. O cheiro do molho de gorgonzola me invadiu. Era um cheio delicioso.
Uma torrada com mignon. Acrescentei mais molho de gorgonzola e experimentei. Era uma delícia!
— Nossa! Muito bom isso aqui – disse satisfeita com a combinação.
— É, está ótimo. – concordou um colega.
— No domingo comi um camarão com catupiry no shopping que estava péssimo. – comentei.
— Claro, você foi comer frutos do mar em uma cidade que não tem mar! Não podia ser bom. – comentou o outro colega, que era local.
— É, faz sentido. Não tinha pensado nisso. – eu disse.
Devia ter me lembrado disso. Não comeria mais frutos do mar longe do mar. – fiz um anotação mental.
— Olá rapaz! – disse o colega local, olhando para algum lugar atrás de mim.
Meu coração acelerou.
Virei lentamente para atrás. Com um sorriso cativante, lá estava ele.
Tudo passou naquele momento. Ele tinha ido!
Eu estava sentada junto a parede, e os lugares a minha frente e ao meu lado estavam ocupados. Havia apenas uma cadeira vazia, logo o lugar mais longe.
Lamentei aquela formação na mesa. Queria ele mais perto de mim.
Mas ele estava lá. Já me sentia bastante feliz.
O papo rolou descontraído. Uma noite agradável.
Dormi profundamente.
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Um despertar agradável. O ar não fazia com que minha garganta ardesse.
Nada como umidade no ar. Me lembraria de repetir o procedimento da noite anterior. Espalhara água por todo o chão do quarto e estendera uma toalha bem molhada na direção da ventilação. Apenas ventilação, nada de ar condicionado para não ressecar novamente o ar.
Mais um dia de trabalho daquela cidade.
Na única vez em que passei por dentro do prédio, não o encontrei.
Voltara ao hotel sem nem mesmo ter visto seu rosto naquela noite.
O telefone também não tocou naquela noite.
Frustada, espalhei água pelo chão.
Comecei a ler com a intenção de dormir. O livro, que comprara no aeroporto, já se encontrava no fim. A cada momento do livro eu ficava mais tensa.
Um nó se formava em minha garganta. Senti as lágrimas brotarem e meu rosto ficar quente. Mais um pouco e elas rolaram pelo meu rosto, incontroláveis.
A visão embaçada fazia com que as letras se misturassem. Uma enxugada nos olhos e mais uma página. E depois outra.
Terminara o livro. Ainda com um nó na garganta.
— Livros deviam ter finais felizes! - disse sozinha
Ainda inconformada com o final do livro, adormeci.
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Tomei um banho demorado depois do trabalho. A água morna se espalhando sobre a pele causava uma sensação agradável. Um hidratante perfumado por todo o corpo para melhorar a pele que não reagia bem àquele clima seco.
— Calça jeans. Mas Qual? - falava comigo mesma.
Vesti uma.
— Não, essa não fica boa. - Vesti outra.
— É, vai ter que ser essa. - concluí
Uma blusa preta rodada, daquelas que não marcam a barriga.
Que sapatos colocar?
Só levara um par de tênis, um sapatinho rasteiro tipo moleca já surrado pelo uso e uma sandália preta de salto alto. A sandália de salto era a única que era apresentável com essa roupa.
— Talvez seja alta demais – pensei – 1,76m mais 10 cm de salto dá 1,86m de altura total.
— É, alto demais. Ele não deve ter tudo isso de altura.
Não tinha outro adequado, era esse ou nada.
Olhei o relógio na mesinha de cabeceira: 21:00
Tínhamos marcado às 21:30. Ele passaria no hotel para me pegar. Iamos a um showzinho de rock de uma banda local.
Provavelmente ele viria com o amigo que trabalhava com ele. O amigo era um moreno que conversava comigo de vez em quando. Dizia que eles marcariam de me lavar para conhecer alguns lugares da cidade.
— O que falta? - pensei – Ah, um pouco de maquiagem, mas da exagerado.
Corretivo para as olheiras. Um pouco de pó compacto. Rímel. Um lápis bem discreto, marrom para combinar com os olhos.
Me sentia ansiosa.
Soltei os cabelos e passei a escova neles soltando bem os fios uns dos outros. Os cabelos avermelhados estavam bem compridos. A escova passava pelos fios lisos fazendo com que eles escorressem uns sobre os outros dando um volume adequado. Estava satisfeita com o resultado.
— Queria que ele viesse sozinho. - pensei alto.
Uma última olhada no espelho. Tudo certo.
Desci para o átrio do hotel.
Do lado de fora o vento esvoassava os cabelos recém penteados.
Ele ainda não estava lá.
Aguardei alguns minutos. Sentia meu coração acelerado. A respiração irregular.
Um carro escuro entrou no acesso do hotel parando em frente à porta. Uma janela se abriu. Dentro do carro um sorriso charmoso me recepcionando.
Ele estava sozinho.
Entrei no carro com o coração parecendo que ia sair pela boca.
— Olá menino! - o cumprimentei com sempre.
— Olá menina! - ele adotara o menina também ao me cumprimentar.
Trocamos dois beijinhos no rosto e saímos.
O bar estava quase vazio quando chegamos. Tinha dois andares. No andar de baixo, encostado em uma parede, tinha um palco pequeno. Na lateral o balcão do bar. Algumas mesas espalhadas nas laterais do salão que não era grande. A música era alta e a banda só começaria mais tarde.
Fomos para o segundo andar. Era um ambiente mais iluminado. Logo de frente para a escada ficava o bar. Algumas mesas. A música ambiente era mais baixa, permitindo conversar sem a necessidade de gritar. À esquerda havia um espaço com sofás rodeando uma pequena mesa de centro. Nos sentamos ali.
Pedimos uma bebida cada.
Escolhera uma caipiríssima de morango. A garçonete, como sempre acontecia quando pedia essa bebida, me avisou que a caipiríssima é feita com Rum.
Ele preferiu uma caipivodka.
Eu estava agitada.
Estávamos sentados na quina da mesa de centro, de modo que ficávamos em um ângulo de 90° e nossos joelhos se tocavam.
Conversávamos sobre coisas cotidianas.
A proximidade e o olhar me deixavam nervosa.
Sentia meu corpo esquentar.
Ele percebia minha agitação.
Me sentia mais sem graça ainda por deixar transparecer aquela ansiedade que me consumia.
Eu sentia mais calor. O suor já brotava no colo.
Resolvi mudar de lugar. Me sentei no sofá ao lado dele. Esse lugar tinha duas vantagens: podia conversar sem ser cara a cara, olhando o movimento do local que aumentava, e a outra vantagem era que o ar condicionado insuflava o ar bem ali.
Podia, assim, diminuir aquela geração descontrolada de calor que ocorria em mim naquele momento.
Pedi mais um drink para me sentir mais relaxada. Dessa vez um “Alexander”.
O bar foi enchendo de gente.
Agora conversávamos sobre nossos gostos, hobbies e viagens. Quanto mais conversávamos, mais eu me surpreendia. Tínhamos gostos e hobbies muito parecidos.
Já devíamos estar a umas duas horas ali conversando quando percebemos que o andar se esvaziara.
A banda tinha começado a tocar no andar de baixo.
Descemos. O primeiro andar estava cheio. Já estava praticamente sem espaço no salão.
Ficamos parados nos últimos degraus da escada. Fiquei um degrau abaixo dele.
Dali tínhamos uma boa visão do palco.
Nos apoiamos na parede para assistir.
Ele estava bem próximo a mim. Podia sentir o calor de seu corpo.
Novamente sentia aquele calor descontrolado.
Pessoas subiam e desciam as escadas, fazendo com que nos espremêssemos mais na lateral para não atrapalhar a passagem.
Nossos corpos estavam praticamente encostados um no outro.
Com uma onde de coragem assumi logo essa proximidade e me encostei de vez nele. Ele me abraçou.
Minha respiração estava mais alterada do que nunca. Sentia minha boca seca. Receava que ele pudesse sentir meu coração saltando com força no peito.
Permanecemos assim assistindo ao show.
Gotas de suor brotavam em meu colo. Já não sabia mais se era de calor ou de nervoso.
Sentia sua respiração. O ar passava em minha orelha me arrepiando.
— Posso te dar um beijo?
Que pergunta era aquela? Ele ainda tinha alguma dúvida? Quase ri.
— Humm, beijinho pode. - dei nele um rápido selinho e virei pra frente.
Seu rosto expressava confusão.
Agora sim eu não conseguia me manter séria. Dei uma risada bem a vontade. Olhei pra ele ainda sorrindo.
— É claro, né!
Agora ele também sorria.
Nos beijamos.
Maldita cidade seca. - pensei.
— Vamos subir? Está muito quente aqui. - Sugeri
Compramos uma água.
Ah, muito melhor agora. - pensei em mais um beijo.
Ao saírmos do bar, ele deu a volta no carro e abriu a porta.
Nossa, ainda existem homens educados! - pensei.
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Era mais uma manhã de outono na cidade. Quando acordei fiquei deitada na cama alguns segundos assimilando a noite anterior. Sabia que em algumas horas iria embora. Queria encontrá-lo.
Um correio.
“Olá, menina!
Que horas você vai embora, podíamos almoçar juntos.
Beijos”
“Olá.
Vou embora meio dia, então vou almoçar cedo e rápido, senão não dá tempo de pegar o avião.
Beijos”
“Poxa, então não vai dar tempo da gente almoçar.”
Era verdade. Com aquele horário apertado não daria tempo de vê-lo.
Almocei rápido. Quem me levaria até a saída da unidade também já terminava de comer.
Já estava preparada para levantar do banco quando olhei para a fila do refeitório. A uns cem metros, um rosto me olhava e sorria. Com um acesso discreto de mão, ele me cumprimentou a distância.
Devolvi o acesso e me levantei. Não tinha mais tempo.
Dei uma última olhada para ele e fui embora.
domingo, 29 de março de 2009
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