sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Último Olhar

Acordei naquele dia com o lábio inchado. Fora o pesadelo com ele que me fizera morder o lábio durante o sono.
Levantei de mal humor. Queria acabar logo com aquilo.
Liguei para casa dele. Ninguém atendeu.
Ele dissera que voltaria à cidade no dia anterior. Onde estaria?
Liguei para o celular. Caixa postal.
Droga! Quanto mais aquilo fosse adiado, pior.
Novamente um embrulho no estômago. Depois umas reviravoltas.
Vomitei.
Aquilo já era demais. Precisava parar de vomitar toda vez que pensasse nele.
A manhã passou sem maiores acontecimentos.
A tarde tentei novamente. 22882020 – chamando. Ele atendeu.
Marquei com ele para pegar minhas coisas e devolver as dele. Seria a primeira vez que o veria depois daquilo. E pretendia que fosse a última também.
Subi no armário para pegar as taças que ele me dera de natal para juntar às coisas dele. Eram taças de champagne com palavras tipo amor, prosperidade, felicidade, etc, que usamos no ano novo.
Tudo mentira. Não as queria mais.
Coloquei tudo no carro e fui ao local marcado. Não queria ele na minha casa.
Chegando encontrei aqueles olhos verdes tão familiares, mas já não me diziam nada.
Trocamos as sacolas com nossos pertences. Agora só faltava ficar livre dele.
― Se você quiser falar alguma coisa a hora é agora. Não terá outra oportunidade. Você não me verá nunca mais. - declarei.
― Me desculpe. Eu sei que errei e errei feio. Sei que estraguei a sua vida e a minha. Estraguei muitas vidas. Eu não te mereço.
Ah, agora que ele percebia que não me merecia.
― Não tem como te desculpar. Você tem culpa sim.
― Eu sei e lamento muito.
Mas seus olhos não pareciam lamentar nada.
Seus olhos diziam apenas que estava incomodado com a situação, mas diziam que se arrependia.
Ele me disse mais uma dúzia de coisas que já não importavam.
Aqueles olhos verdes é que me disseram o que importava.
Ele nunca me amara de verdade. Apenas enganou a mim e a si mesmo. Ele nunca amara ninguém.
― Eu quero que você apague todos os meus telefones. Agora. - exigi.
Não queria que ele resolvesse me ligar para se desculpar denovo ou para tentar me envolver denovo, como já havia feito outras vezes.
Agora chega. Nunca mais. - pensei comigo.
Não queria mais nada dele.
Ele apagou meus números do celular.

Liguei o carro e deixei-o sentado na calçado e fui embora sem olhar para trás.

Neste dia e naquela noite eu chorei tudo que não tinha chorado naquelas duas semana anteriores. Chorei de se faltar ar, chorei do fundo da alma.
Adormeci de exaustão.

Nos dias seguintes era como se o ar ficasse cada vez mais leve. Estava livre. Livre de tudo.

2 comentários:

  1. Espero que não se incomode, blogs são publicos mas isso não quer dizer que todos são bem vindos.

    Adorei os textos, todos os trés. De certa forma é uma bela maneira de começar um blog. Qualquer um com alguns anos de vida já passou por coisas assim. Piores ou não. Em diferentes niveis, por diferentes motivos. E aqui estou eu quase que apaupando todos os sentimentos, escondidos ou a amostra, contidos nesses textos.

    Se não for em vão: Boa sorte.
    Não porque você precise. Ninguem precisa realmente, mas também não faz mal. E continue escrevendo ^^

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  2. Esse foi O fim.
    As coisas precisam ter um início, meio e fim. Cabe a nós, muitas vezes, dar esse fim. No meu ver isso é quase um dom, dom esse que eu não tenho.
    Acho que eu deveria te desejar parabéns.

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